DEUS ESTÁ FALANDO? COMO POSSO SABER?
Por: Marcos Tuler
Isso é tão sério que tive de me desfazer de uma amizade no Facebook, por conta de um camarada que ficava o tempo todo profetizando nas chamadas "lives". As "profecias", intermeadas de línguas estranhas e sem interpretação, a maioria das vezes, eram ameaçadoras e não tinham o menor lastro bíblico.
Fico pensando como alguém pode ter coragem de fazer isso e ser aprovado e aplaudido por quantidade significativa de pessoas. Estamos vivendo em uma época em que os crentes têm preguiça de estudar, ler a Bíblia ou bons livros. Querem apenas divertimento e distração! Querem o que é mais fácil! É a tal religião líquida de Zygmunt Bauman.
Isso tudo me faz lembrar de uma experiência que tive há alguns anos. Vou relatá-la pra vocês e depois fazer algumas aplicações levando em conta a extrema necessidade do dom de discernimento espiritual em nossos dias.
Prestem atenção nessa história!
O culto de oração transcorria normalmente: os irmãos entoavam louvores, oravam, testemunhavam, e o Espírito Santo operava sobremaneira através da manifestação genuína dos dons espirituais.
Tudo parecia natural como sempre, até
que, de súbito, alguém prorrompe o silêncio “falando em línguas” em alta e
estridente voz.
Tratava-se de um homem forte e bem
afeiçoado, porém, estranho àquela comunidade; não havia sequer um irmão que o
tivesse visto por aqueles arredores.
Sem nenhum constrangimento, o inusitado
visitante gritava sem parar, forçando a congregação a ficar em silêncio para
ouvi-lo.
Sempre em línguas, “especialmente
estranhas”, intercaladas com frases em deficiente português, falava o aparatoso
“vaso” como se tivesse autoridade divina, esbravejando seus ameaçadores
vaticínios sobre aquele humilde rebanho.
Não fosse a arrogante postura e as
estranhas manifestações, não causaria nenhum espanto, o fato de alguém falar em
línguas e profetizar durante um culto pentecostal. Entretanto, a situação não
era nada familiar. À medida que o culto se desenrolava, as constantes profecias
tornavam-se cada vez mais sinistras e divorciadas da verdade bíblica.
A igreja já estava dividida em várias
opiniões: muitos, acreditavam que tais manifestações eram mesmo provenientes do
Espírito Santo. Pelo que, respeitavam e, intimidados, diziam uns para os
outros: "é do Senhor! É do Senhor!"
Outros, incomodavam-se, mas, para não
serem considerados menos espirituais, preferiam não fazer alarde.
Estaria aquele homem sob influência de
algum espírito maligno? Ou seria simples manifestação da carne? Se não era
demônio, quem demoveria aquele ardiloso e frenético canastrão de seus caprichos
egocêntricos? Quem teria coragem de duvidar de um “profeta de fogo”?
Finalmente alguém reage corajosamente
desbaratando a “festa”: chega! “Vamos acabar com essa farsa!” – Era um velho
pastor conhecido na região.
Em meio aquela fragorosa balbúrdia,
pois já engrossava o coro dos que veneravam o tal “profeta”, aquele pastor, que
em outras ocasiões manifestara o dom de discernimento, levantou-se num rompante
e pôs-se a cantar um hino; de modo que abafava a temerosa voz do desvairado mensageiro
do engano. Ato contínuo, à medida que aquela ruidosa “voz profética” insistia
em deflagrar seus ardis; e desta vez com ameaças de castigos e morte, mais alto
ainda, o pastor cantava. Nesta altura, como era de se esperar, o povo,
desiludido, unia-se ao servo de Deus num cântico arrebatador.
Diga-se de passagem: naquele momento, o
pastor discernia que aquelas
manifestações não eram de Deus. O que se presenciava era uma forte expressão do
ego humano, que trazia àquele homem um enorme desejo de ocupar o centro das
atenções e fingir profunda espiritualidade.
O desfecho deste episódio não poderia
ser outro: desmascarado e humilhado aquele homem nunca mais retornou àquela
igreja.
Creio que a partir deste relato, o
leitor já tenha entendido o significado e a importância do dom de discernimento
espiritual. Porém, para que fique ainda mais claro, exporei algumas ideias e
argumentos baseados na Palavra de Deus.
O dom de distinguir os espíritos
evitará que sejamos vítimas indefesas do logro espiritual. Este dom pode operar
em e através de um crente cheio do Espírito Santo (1 Co 2.12-15). Não deve ser
confundido com um espírito crítico natural, que é da carne e não do Espírito.
O Dicionário Teológico, publicado pela
CPAD explicita:
“Para
se discernir os espíritos, as faculdades humanas são insuficientes; é
indispensável a capacitação do Espírito. O discernimento de espíritos independe
das operações intelectuais; depende única e exclusivamente da iluminação
divina”. Por exemplo:
Jesus
sabia quando Satanás era a causa das enfermidades (Lc 4.33-35;Jo 5.14).
Pedro
reconheceu que Simão era dominado por um espírito maligno (At 8.18-23).
A incursão de falsos profetas, usados
ou não por espíritos malignos, nas igrejas não é coisa nova. As comunidades
cristãs primitivas sofriam com estes ardilosos deturpadores da obra. Causavam
tremenda confusão na igreja, desvirtuando principalmente os neófitos na fé.
Infelizmente, como nos primórdios, algumas igrejas se mostram inocentes e
infantis quando aceitam de forma passiva qualquer manifestação aparentemente
sobrenatural.
A maioria entre nós não tem consciência
da grande quantidade de atividade espiritual que ocorre ao nosso redor a todo
tempo. O dom de discernir ou distinguir os espíritos permite um breve relance
nesta dimensão invisível, dando ao crente poder para julgar qual espírito está
sendo usado.
Talvez nenhum outro dom seja mais
necessário na igreja, hoje em dia, do que esse, numa época em que tantas
igrejas se têm transformado em potenciais shows místicos e mágicos, conturbando
as mentes dos incautos.
A Palavra do Senhor nos adverte:
“Amados, não deis crédito a qualquer espírito: antes, provai os espíritos, se
procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo afora” (1
Jo 4.1).
Prof. Marcos Tuler
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