A ORIGEM DA BÍBLIA
A ORIGEM DA BÍBLIA
Marcos Tuler
A
Bíblia é a revelação de Deus aos homens: o Todo-Poderoso revelou-se à
humanidade plenamente através de seu Filho Jesus Cristo – palavra viva;
tornou-se homem para dar ao gênero humano uma ideia concreta, definida e palpável
do que seja a pessoa que devemos ter em mente quando pensamos em Deus – Deus é
tal qual Jesus.
Toda
a Bíblia se desenvolve ao redor da bela história de Cristo e de sua promessa de
vida eterna. Seu aparecimento na terra, indubitavelmente, é o acontecimento
central de toda a história. Cristo é o Verbo Divino, a Palavra de Deus em ação,
tema unificador: o assunto central da Bíblia.
O Antigo Testamento forneceu o cenário para o surgimento
do Messias. O Novo, descreve-o com perfeição. Assim, Cristo se esconde no
Antigo Testamento e é desvendado no Novo.
Os
crentes anteriores a Cristo olhavam adiante com grande expectativa, ao passo
que os crentes de nossos dias vêem em Cristo a concretização dos planos de
Deus: o perfeito e harmonioso cumprimento da Bíblia.
Quem é o autor da Bíblia? Quem é seu real interprete?
Deus
é o autor da Bíblia por excelência, e o Espírito Santo, seu real intérprete.
Embora Deus seja o genuíno autor da Bíblia, inspirou cerca
de 40 homens para escrevê-la.
Esses homens tinham diferentes atividades, viviam
distantes uns dos outros, tinham estilos e características distintas e eram
provenientes de três continentes. O trabalho de todos levou pelo menos uns
1.500 anos – de Moisés ao apóstolo João.
Independente
dessas circunstâncias, na Bíblia há um só plano, que de fato mostra que há um
só autor divino, guiando os humanos. Isto é o que garante a unidade da
revelação bíblica.
A formação do cânon sagrado
Você
conhece a origem da Bíblia? Sabe como, em quanto tempo e, em quais condições
ela foi formada? Sabe o que ela representa e sempre representará para a
humanidade?
A
palavra "cânon", expressão latina,
deriva-se do termo grego kanõn,
que significa literalmente "vara reta de medir" ou "régua de
carpinteiro". Em outras palavras, este termo denota um padrão de medida
excelente e rigoroso.
Aplicado às Escrituras o Cânon significa aquilo que serve
de norma, regra de fé e prática. Deste modo, o Cânon Sagrado é uma coleção de
livros que foram aceitos por sua autenticidade e autoridade divinas. Isto
significa que os livros que hoje formam a Bíblia satisfizeram o padrão, ou
seja, foram dignos de serem aceitos e incluídos.
Os
livros da Bíblia são denominados canônicos para não serem confundidos com os
apócrifos, escritos não inspirados e não autorizados por Deus.
O
emprego do termo “cânon” foi primeiramente aplicado aos livros da Bíblia por
Orígenes (185-254 d.C).
Como se formou, e em quanto tempo
se completou o Cânon do Antigo Testamento?
O
Cânon do Antigo Testamento foi formado num período aproximado de 1.046 anos –
de Moisés a Esdras.
Moisés começou a escrever o Pentateuco cerca de 1491 a.C.,
Esdras surge por volta de 445 a.C.
Esdras,
segundo a literatura judaica, na qualidade de escriba e sacerdote, presidiu um
conselho formado por 120 membros chamado Grande Sinagoga. A Grande Sinagoga
selecionou e preservou os rolos sagrados, determinando naquele tempo o cânon
das Escrituras do Antigo Testamento (Ed 7.10,14).
Foi
essa mesma entidade que reorganizou a vida religiosa nacional dos repatriados
e, mais tarde, deu origem ao supremo tribunal judaico denominado sinédrio.
A formação do Cânon se deu
gradualmente
Antes
mesmo de Deus ter ordenado a Moisés que escrevesse, pela primeira vez, um
memorial a respeito da vitória de seu povo sobre os amalequitas, a Palavra de
Deus já circulava entre os homens sob o método da transmissão oral: “Escuta-me,
mostrar-te-ei; e o que tenho visto te contarei; o que os sábios anunciaram,
ouvindo-o de seus pais, e o não ocultaram...” (Jó 15.17,18).
Agora
observe as evidências da formação do cânon na própria narrativa bíblica.
Moisés
Moisés
começou a escrever o Pentateuco cerca de 1491 a.C., concluindo-o por volta de
1451 a.C.
Não
há evidência de que o homem tivesse a palavra de Deus escrita antes do dia em
que Jeová disse a Moisés: “Escreve isto para memória num livro, e relata-o aos
ouvidos de Josué...” (Êx 17.14).
A
memória de Amaleque seria riscada para sempre. Esse foi o juramento que fez o
Senhor. O Todo-Poderoso queria que aquela vitória fosse registrada num livro para
que Israel jamais se esquecesse daquele livramento, provisão e justiça divinos.
Mais
tarde, Deus haveria de configurar o Livro santo e reafirmar seus propósitos a
Moisés: "Escreve estas palavras; porque conforme o teor destas palavras tenho feito aliança contigo e com Israel"
(Êx 34.27). [grifo nosso]
Josué e Samuel
Josué (1443 a.C), sucessor de Moisés, escreveu uma obra
que colocou “perante o Senhor” (Js 24.26).
Samuel
(1095 a.C), último juiz e profeta, também escreveu, pondo seus escritos
“perante o Senhor” (1 Sm 10.25).
Afinal
de contas, o que significa escrever e colocar “perante o Senhor”?
Sobre isto, Deus já havia
instruído a Moisés: "E porás o propiciatório em cima da arca, depois que
houver posto na arca o testemunho que te darei" (Êx 25.21).
Tudo nos leva a crer que,
naquele tempo, os livros sagrados eram depositados na Arca do Concerto à medida
que iam sendo escritos. Deste modo, quem intentaria pelo menos tocar na
santíssima Arca, onde o Altíssimo fulgurava sua glória? Deus havia arrumado uma
forma bem original de preservar as Sagradas Escrituras.
Isaías
Isaías (770 a.C), profeta e conselheiro de confiança do
rei Ezequias, afirma que suas inspiradas profecias se cumpririam cabalmente e
estariam registradas por escrito no "Livro de Jeová". Trata-se de
explícita referência às Escrituras na sua formação: “Buscai no livro do Senhor,
e lede...” (Is 34.16).
Salmos
Em 726 a.C. os Salmos já
eram cantados: "Então o rei Ezequias e os príncipes disseram aos levitas
que louvassem ao Senhor com as palavras de Davi, e de Asafe. E o louvaram com
alegria e se inclinaram e adoraram" (2 Cr 29.30).
Jeremias
O
Senhor ordenou a Jeremias (626 a.C) que registrasse sua promessa de trazer seu
povo do cativeiro: "A palavra que do Senhor veio a Jeremias dizendo: assim
diz o Senhor Deus de Israel: Escreve num livro todas as palavras que te tenho
falado" (Jr 30.1,2).
Josias
No
tempo do rei Josias (621 a.C), época em que o templo estava sendo reparado, o
sacerdote Hilquias achou o "Livro da Lei" (2 Rs 22.8-10). Quando o Livro
santo foi lido perante o rei, o grande monarca percebeu quanto o povo estava
fora da vontade de Deus e renovou a aliança com o Senhor.
Este
episódio é uma evidência da formação do cânon naquela época, porém, também
patenteia-nos uma grande lição para os nossos dias. Quando a Palavra de Deus é
relegada, o povo se corrompe.
Daniel
Daniel
(553 a.C) refere-se aos "livros" (Dn 9.2). Eram os rolos sagrados das
Escrituras de então.
Zacarias
Zacarias
(520 a.C) declara que os profetas que o precederam falaram da parte do Espírito
Santo (7.12). Não há aqui referências direta a escritos, mas há inferências.
Zacarias foi o penúltimo profeta do Antigo Testamento, isto é, profeta
literário.
Neemias
Neemias
nos seus dias (445 a.C), achou o livro das genealogias dos judeus que já haviam
regressado do exílio (7.5). Certamente havia outros livros.
Ester
Nos
dias de Ester, o Livro Sagrado estava sendo escrito. Ester e Mardoqueu foram
usados por Deus para livrar Israel do extermínio, intentado pelo maléfico Hamã.
Para que esse feito fosse lembrado perpetuamente,
instituíram e registraram “no livro” a festa de Purim: “... e escreveu-se no
livro” (Et 9.32).
Nos dias de Jesus
Na época de Jesus, os 39 livros do Antigo Testamento já
eram plenamente aceitos pelo judaísmo como divinamente inspirados. O Senhor
referiu-se repetidas vezes ao Antigo Testamento, reconhecendo-o como a Palavra
de Deus (Mt 19.4 e 22.29). Para se conferir a confiança que os escritores do
Novo Testamento tinham do Antigo, basta conferir as centenas de citações da
Lei, dos profetas e dos escritos feitos por eles.
Concluímos
que, começando por Moisés, à proporção que os livros iam sendo escritos, eram
postos no tabernáculo, junto ao grupo de livros sagrados. Esdras, como já
dissemos, após a volta do cativeiro, reuniu os diversos livros e os colocou em
ordem, como coleção completa. Destes originais eram feitas cópias para as
sinagogas largamente disseminadas.
O
Cânon do Antigo Testamento só foi realmente reconhecido e fixado no Concílio de
Jâmnia em 90 d.C.
Houve muitos debates acerca da aprovação de certos livros,
porém, o trabalho desse Concílio foi apenas ratificar aquilo que já era aceito
por todos os judeus através dos séculos.
Os livros apócrifos do Antigo
Testamento
A palavra “apócrifo” significa, literalmente
“escondido”, “oculto”, isto em referência a livros que tratem de coisas
secretas, misteriosas, ocultas. No sentido religioso, o termo significa não
genuíno, espúrio, suposto, ilegítimo.
Os livros apócrifos foram escritos entre
Malaquias e Mateus, ou seja, entre o Antigo e o Novo Testamento, numa época em
que cessara por completo a revelação divina.
Nunca
foram reconhecidos pelos judeus como parte do cânon hebraico. Jamais foram
citados por Jesus nem foram reconhecidos pela igreja primitiva.
Apareceram
pela primeira vez na Septuaginta, a tradução do Antigo Testamento feita do
hebraico para o grego. Quando Jerônimo traduziu a famosa Vulgata, no início do
século V, incluiu os apócrifos oriundos da septuaginta.
São
11 os escritos apócrifos: sete livros e quatro acréscimos a livros.
Os
sete livros apócrifos constantes das Bíblias de edição católico-romana são:
Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruque, 1 Macabeus, 2
Macabeus.
Os
quatro acréscimos ou apêndices são: Ester (a Ester 10.4–16.24); Cânticos dos
três santos filhos (a Daniel 3.24-90); História de Suzana (a Daniel cap.13);
Bel e o Dragão (a Daniel cap.14).
Em
1546, no concílio de Trento, a Igreja Romana aprovou os apócrifos (escritos que
apoiavam seus falsos ensinos) para combater o movimento da Reforma Protestante.
O Cânon do Novo Testamento
Por que formar um cânon para o Novo
Testamento?
Jesus
foi o redentor de quem o Antigo Testamento deu testemunho. Suas palavras,
segundo eles, não podiam ter menos autoridade do que a Lei e os Profetas.
Convencidos disto, os cristãos as repetiam sempre e as colocaram na forma
escrita que se tornou o núcleo do cânon.
O
tempo estava passando. Enquanto a regra tradicional da “doutrina apostólica
baseada nos ensinos de Cristo e na interpretação do seu trabalho” foi mantida,
não houve necessidade de escrevê-la. Mas, com a morte dos apóstolos, um a um, a
tradição oral tornou-se insuficiente. As dissensões nas igrejas também tornaram
o apelo à palavra escrita tanto natural quanto necessário.
Nenhum
livro podia ser declarado Escritura, se não contivesse as ênfases que o
tornasse como tal. Prevalecia uma unanimidade surpreendente entre as igrejas
quanto aos escritos que falavam convincentemente de Deus.
O
cânon do Novo Testamento aumentou sob a orientação de um instinto espiritual,
em lugar da imposição de uma autoridade externa.
Os
escritos aceitos eram de autoria daqueles honrados pela Igreja – Mateus, João,
Paulo, Pedro – assim como de pessoas menos conhecidas, apoiadas por uma
autoridade apostólica – Pedro por trás de Marcos, Paulo por trás de Lucas.
Alguns livros levaram mais tempo para alcançar a canonicidade.
O
Cânon do Novo Testamento se fixou de forma quase universal no século IV d.C.,
com Atanásio de Alexandria (325 d.C.).
No
ano de 367 d.C. Atanásio enviou uma carta estabelecendo a lista dos livros
sagrados que deviam ser lidos nas igrejas. Essa lista era exatamente a mesma
que contém os atuais vinte e sete livros do Novo Testamento.
Porém,
o cânon neotestamentário só foi definitivamente reconhecido e fixado, quando
uma lista idêntica a de Atanásio foi aprovada no concílio de Cartago em 397
d.C.
A Bíblia é fruto
da mente de Deus
Concluímos
que a Bíblia é como a construção de um grande prédio, em que há muitos
operários empregados. Cada um sabe bem o seu ofício, porém todos dependem do
plano do arquiteto. Ela é perfeita e harmoniosa.
Embora
tivesse havido tantos autores humanos, a unidade, simplicidade e singularidade
da Bíblia indicam que houve uma só mente por trás de todas, a mente de Deus.
Os
autores humanos fornecem variedade de estilo e matéria. O autor divino garante
unidade de revelação e ensino.
Teólogos
liberais, através da danosa Alta Crítica, fazem de tudo para colocar a Bíblia
em descrédito. Chegam a sustentar que ela é uma espécie de história secular do
esforço do homem por encontrar a Deus. Rejeitamos essa ideia com repugnância!
A
Bíblia é a Palavra viva de Deus que narra o esforço do Todo-Poderoso por
revelar-se e salvar o homem perdido.
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